Prof. Marcelo Conte
Doutor em Ciências Visuais (UNIFESP) e Mestre Ciências do Esporte (UNICAMP)
Especialista em Preparação Física para o Automobilismo
Head Trainer Conte Fit Motorsports Training
@contefit
É consenso no âmbito da Ciência dos Esportes a Motor de que a temperatura elevada é um dos principais fatores para o desgaste físico de pilotos. A associação das condições climáticas, vestimenta do piloto, desidratação, esforço físico, inalação de monóxido de carbono e o calor gerado pelos motores do carro de corrida proporciona uma combinação perfeita para o aumento da temperatura corporal, a qual promove grande estresse orgânico exigindo muito da resistência física e psicológica do piloto.
Alguns exemplos dessa situação ficaram marcados na memória de todos nós, amantes do automobilismo, como a dramática cena do piloto inglês de F1 Nigel Mansell no GP Dallas, 1984, quando já exausto empurrou sua Lotus 95T após a quebra do câmbio, a poucos metros da bandeirada final, em uma corrida disputada sob uma temperatura ambiente acima de 35°C e do asfalto em torno de 60°C. O valente piloto britânico não suportou o esforço realizado sob sol escaldante e desmaiou ao lado do seu carro. O tricampeão Nelson Piquet, no GP Brasil de 1982 também sofreu com o calor do Rio de Janeiro e após vencer a corrida passou mal no pódio, bem como Ayrton Senna em 1991 no GP Brasil, disputado no autódromo José Carlos Pace, onde o piloto brasileiro terminou a prova exausto, pelo esforço físico associado a temperatura elevada. Ao longo da história, são vários os exemplos a respeito do desgaste provocado pelo estresse térmico durante as corridas.
As camadas de roupas de proteção (macacão anti chamas, capacete, bala clava, camiseta, luvas, sunga, meias e sapatilhas) e o próprio ambiente do cockpit criam vários microambientes, cada um comprometendo a capacidade de termorregulação do piloto. Sendo que a termorregulação adequada requer exposição ao ambiente e um gradiente, para justamente ocorrer o resfriamento corporal. Contudo, a única parte do corpo do piloto que está exposta para o meio ambiente não é muito mais do que seus olhos, assumindo ainda que o visor do capacete esteja levantado! Em nenhum outro esporte o atleta é exposto a condições de estresse térmico tão severo como no automobilismo.
Elevadas temperaturas podem ocasionar a desidratação, segundo o estudo clássico de Greenleaf, 1992, a perda de água corporal equivalente a 4% peso corporal total resulta na redução entre 20 a 30% da capacidade física. Portanto, é muito importante o piloto se pesar antes e depois da corrida ou treinos para quantificar a perda de peso e consequentemente de líquido, para assim poder estabelecer uma melhor estratégia de hidratação, tantos nas horas subsequentes quanto nos próximos eventos. Estudos no automobilismo mostram que, em média ocorre a perda de 1 litro de água corporal por hora durante a pilotagem (Bertrand, et al 1983; Brearley & Finn 2007).
Um dos grandes problemas da elevação da temperatura corporal do piloto é a influência na frequência cardíaca (FC). As evidências dessa relação, no automobilismo, são conhecidas já a algum tempo, quando Ladell & Watkins em 1957, relataram um aumento de 25 bpm para cada 1oC de aumento da temperatura corporal. O estudo de Wyon e colaboradores, 1996, mostrou que houve redução progressiva da coordenação óculo-manual em motoristas carros de passeio, com um aumento da temperatura corporal de apenas 0,8oC. Certamente o aumento da temperatura corporal pode também prejudicar a capacidade coordenativa do piloto.
Como mencionado anteriormente, a elevação da temperatura corporal vai influenciar diretamente na frequência cardíaca (FC) do piloto, aumentando a média de batimentos cardíacos durante a corrida. Eu tenho acompanhado as frequências cardíacas dos nossos pilotos durante as corridas e os treinamentos, e para exemplificar a relação entre temperatura ambiente e FC, segue abaixo uma tabela das médias da FC do piloto Sylvio Correa, campeão da Copa São Paulo Light de Kart - 2020, categoria Sênior B, durante algumas etapas daquela Temporada, realizadas em diferentes médias de temperatura ambiente.
Observando a tabela acima, podemos verificar claramente, que a temperatura ambiente elevada promove uma exigência cardiovascular 20% superior a condições de clima ameno. Brearley e Finn, em estudo publicado em 2007, avaliaram a resposta térmica de quatro pilotos da V8 Supercar durante corridas curtas e longas e observaram que a temperatura central aumentou de 37,7oC para 39oC após a corrida.
Em resumo a temperatura elevada pode aumentar o desgaste físico e comprometer a técnica de pilotagem. Para melhorar a tolerância ao estresse térmico é necessário investir no condicionamento aeróbio (resistência cardiovascular), para suportar a elevação da frequência cardíaca e sobretudo cuidar da hidratação durante as corridas e treinos.
Para desenvolver o condicionamento aeróbio o piloto deve realizar, de duas a três vezes por semana, atividades como por exemplo corrida, ciclismo, remo estacionário ou natação, de forma intervalada ou contínua por pelo menos vinte minutos com intensidade maior que 70% da frequência cardíaca máxima. Porém, essa é uma orientação básica apenas para exemplificar, sendo fundamental consultar um profissional de Educação Física para estabelecer uma estratégia de treinamento adequada e segura, de acordo com a individualidade biológica do piloto.
Para hidratação uma recomendação básica é consumir pelo menos 500 ml de água duas horas antes da corrida ou treino, depois um copo de água um pouco antes de entrar no carro ou kart. Durante a corrida, se for possível, consumir água de acordo com a sede. E finalmente, após a corrida ingerir a proporção de 1,5 l de água por kg perdido na prova, por isso a importância de se pesar antes e depois dos treinos e corridas para determinar a quantidade de água necessária após os treinos de pista e corridas. Não ingira refrigerantes, sucos artificiais e energéticos para se hidratar. A melhor estratégia pré corrida é a mais simples: apenas água mineral. No pós-corrida, dependendo do desgaste físico, além da água mineral, as bebidas isotônicas ou água de coco são bons recursos para reposição dos líquidos e minerais perdidos durante as provas.
Importante considerar, que a desidratação compromete diretamente as funções cognitivas do piloto e consequentemente prejudicando muito a técnica de pilotagem. Os estudos apontam que a desidratação promove a redução do tempo de reação, habilidades psicomotoras, memória e estado de alerta.
Contudo, para o treinamento aeróbio começar a apresentar efeito é necessário em média 20 semanas de preparação física e evidentemente continuar a rotina de treinamento semanalmente por toda a temporada, já os efeitos positivos da hidratação podem ser percebidos imediatamente. No mais desejo, bons treinos e corridas na Temporada Amika, especialmente muita atenção com a preparação física e hidratação, neste quente Verão de 2023.
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