Prof. Marcelo Conte
Doutor em Ciências Visuais (UNIFESP) e Mestre Ciências do Esporte (UNICAMP)
Head Trainer Conte Fit Motorsports Training - @contefit
No entanto, antes de explorar sobre as razões para o desenvolvimento dos músculos do pescoço, vamos abordar algumas questões anatômicas. Neste sentido, ao todo são 16 os músculos localizados na região pescoço. Essas regiões são classificadas em cinco grupos: Anterior do Pescoço; Supra Hiodeos; Infra Hiodeos; Lateral do Pescoço; Pré-Vertebral. Embora todos os 16 músculos sejam importantes, para prática do Automobilismo, destacam-se as ações dos músculos Esternocleidomastóideo e Escalenos (região Lateral do Pescoço) e o Longo da Cabeça, Reto Anterior da Cabeça e Longo do Pescoço (região Pré-Vertebral).
Os pilotos de carros de corrida precisam suportar várias vezes o peso do corpo em forças G a cada curva, aceleração ou frenagem e, contra essas forças, deve manter a cabeça alinhada para a melhor postura de pilotagem, estender as pernas de forma explosiva para acionar os pedais, movimentar os braços para virar o volante e/ou acionar o câmbio. Tudo isso em um espaço restrito e em ambiente quente e, dependendo da categoria, rico em monóxido de carbono. Os pilotos precisam suportar e, na medida do possível, dissipar centenas de quilos de força de cisalhamento, compressão e tensão especificamente no pescoço.
É verdade que os músculos do pescoço podem ser fortalecidos durante a própria prática do automobilismo, porém a respectiva estratégia não apresenta o melhor custo-benefício. É consenso, entre os especialistas que é preciso dedicar pelo menos de 2 a 4 sessões semanais de treinamento específico com o preparador físico.
O piloto norte–americano, Jimmie Johnson, na matéria "What's Your Workout?", para o Wall Street Journal, enfatizou três aspectos de seu treinamento físico: movimentos musculares excêntricos (ou seja, exercícios com pesos onde se enfatiza a fase do movimento onde a ação da gravidade vence a resistência muscular), força de preensão manual (músculos do antebraço) e força do pescoço. Johnson destaca que na preparação para sua primeira temporada de corridas na IndyCar após 20 anos de NASCAR, o foco do treinamento foi para suportar a exposição constante à magnitude das forças gravitacionais nas curvas e, principalmente ao número de vezes que seu corpo iria experimentar “ondas” de G-Force. E ainda considerou, uma vez que o IndyCar não tem direção hidráulica, como os carros da NASCAR, que haveria maior demanda física e metabólica nos braços, ombros e pescoço. Consciente de que, o desempenho depende de quão bem os músculos estabilizadores do tronco e cabeça podem resistir e controlar as forças externas, Johnson disse em sua entrevista:
"Essencialmente, meu core e a parte inferior das costas atuam como minha âncora e eu uso meus braços para lutar contra as forças através do volante." O piloto sempre está com seu dispositivo para treinar a força de preensão manual, com o objetivo de "queimar os antebraços diariamente". De fato, um estudo de 2005 realizado por Jani Backman descobriu que a força de preensão manual isométrica diminui 15% após apenas 30 minutos de condução. Contudo, para o piloto além dos antebraços, é crucial fortalecer a região cervical, e utilizar várias técnicas para aumentar a força do pescoço. Um dos recursos mais utilizados é o equipamento
Iron Neck para resistência rotacional. Como muitos usuários do equipamento, Johnson quando está treinando se depara com os olhares surpresos ou divertidos das pessoas ao seu redor, devido combinação da intensidade do exercício com a aparência nada convencional do equipamento que lembra um chapéu chinês.
Existem vários equipamentos e métodos para treinar os músculos do pescoço. No passado, muitas técnicas rudimentares, utilizadas por atletas de lutas ou até mesmo por pilotos de automobilismo durante os treinamentos, podiam ao invés de contribuir para a proteção da região cervical até aumentar o risco de lesão do pescoço durante o próprio treinamento ou pela ação repetitiva dos movimentos. Neste sentido, os métodos e equipamentos para treinar o pescoço evoluíram muito nos últimos anos. Justamente, devido a sensibilidade da região cervical, é importante utilizar técnicas apropriadas, equipamentos específicos e orientação de um especialista para composição de um treinamento adequado para os músculos do pescoço.
Não é preciso ser um cientista esportivo ou mestre da biomecânica para imaginar que o pior cenário para os pilotos de carros de corrida são as lesões na cabeça e no pescoço. Antes de 2001, as lesões da junção craniovertebral (CVJ) eram a causa mais comum de fatalidades nos Esportes a Motor. A introdução do dispositivo de Suporte para Cabeça e Pescoço (HANS), nos últimos 20 anos diminuiu drasticamente o risco de morte e de lesões graves por trauma ao CVJ. O dispositivo HANS foi projetado para trazer as forças que atuam no pescoço abaixo dos limites conhecidos de lesões graves, reduzindo as tensões de carga e força de cisalhamento no pescoço de potencialmente duas vezes, o limite de lesão, para menos de um terço. As pesquisas mostram que com a utilização do HANS, os pilotos agora estão expostos "apenas" um pouco mais de 200 libras de cisalhamento frontal do pescoço, cargas axiais e de alongamento. Aproximadamente, apenas a carga do próprio peso corporal do piloto, atuando sobre o pescoço em caso de acidentes. Embora a desaceleração quase instantânea causada pela colisão tenha sido o principal fator levado em consideração no design do dispositivo HANS, o equipamento também alivia as repetidas pressões de frenagem e aceleração rápidas. Esses momentos podem não causar nenhuma lesão individualmente, mas seu acúmulo ao longo de uma corrida contribui para a dor e a fadiga, com potencial para lesões agudas ou crônicas ao longo de uma temporada ou carreira. O fortalecimento dos músculos do pescoço e do músculo trapézio em combinação com o uso do HANS, pode contribuir sensivelmente com prevenção de lesões agudas ou crônicas na região cervical dos pilotos.
O estudo de Backman descobriu que os pilotos de monopostos apresentam maior força isométrica do pescoço do que um grupo controle constituído por não pilotos. Estes pilotos suportam até 4 G's de força sobre os músculos eretores da espinha e cervicais. A tolerância dos pilotos é muito superior aos de indivíduos que não praticam automobilismo. O mesmo estudo mostrou que a flexão lateral isométrica do pescoço diminuiu 18% após 30 minutos de pilotagem, juntamente com uma diminuição na curva força-tempo para a flexão lateral. Os pesquisadores William Ebben e Timothy Suchomel estudaram 40 pilotos da NASCAR em 2012 (Journal of Strength and Conditioning Research). Os autores verificaram que a fadiga do ombro e dor no pescoço foram as queixas mais comuns de dor muscular pós-corrida. Dor nas costas e no pescoço foram os problemas físicos contínuos mais frequentes experimentados pelos pilotos. E, em resposta à pergunta "Com quais lesões relacionadas à corrida você está preocupado no futuro", as lesões na cabeça e no pescoço ficaram em segundo lugar atrás de fogo e queimaduras. Apesar de toda essa centralização no pescoço, por outro lado nenhum deles relatou fazer qualquer treinamento de resistência em seus pescoços. O que mostra que, alguns pilotos embora reconheçam a importância dos músculos do pescoço, não os treinam especificamente, levando a uma inconsistência no programa de treinamento físico.
Jimmie Johnson pode agora ser o defensor mais conhecido do treinamento de pescoço no circuito
IndyCar ou no grupo de ex-pilotos da NASCAR, mas não é o único. Os centros de treinamento para pilotos de automobilismo: PitFit Training e St. Vincent Sports Performance, ambos em Indianápolis, assim como nós da Conte Fit Motorsports Training, incluem a utilização do Iron Neck e outros equipamentos específicos em seus programas e rotinas de treinamento para atletas como Tony Kanaan, Scott Dixon, Dario Franchitti, Josef Newgarden e Conor Daly. E você piloto? Tem dedicado algumas séries da sua rotina semanal de treinos para aumentar a força e resistência do seu pescoço?
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