Prof. Marcelo Conte
Doutor em Ciências Visuais (UNIFESP) e Mestre Ciências do Esporte (UNICAMP)
Head Trainer Conte Fit Motorsports Training - @contefit
Muitos leitores e pilotos de kart iniciantes têm me perguntando como é a evolução de um piloto durante o processo da preparação física e neurosensorial. De fato, diversos fatores interferem nessa equação, tais como: idade, estado de saúde, nível de treinamento e aptidão física, individualidade biológica, dedicação aos treinamentos, condições nutricionais, entre outros. O que torna difícil uma resposta única e definitiva para a pergunta.
No entanto, é possível exemplificar a evolução física através de relatos de caso de pilotos, os quais temos acompanhado o processo de condicionamento físico através do nosso programa de Preparação Física – Conte Fit. Assim sendo, na coluna deste mês, vou abordar um caso muito interessante do piloto Sylvio Correa Neto.
Sylvio está no kart desde a adolescência, no início dos anos 2000, na época ganhou muitas corridas e chegou ao título paulista. Além do kart, praticava natação, musculação e squash.
Contudo, após se formar em Engenharia, progressivamente o tempo para prática de kart e a atividade física foi ficando cada vez mais restrito. Com o passar dos anos, o piloto ganhou muito peso corporal, chegando a ficar 30 quilos acima do ideal.
Aos 34 anos em 2019, o piloto de 172 cm de altura estava pesando quase cem quilos, sendo aproximadamente 35% deste peso de gordura corporal! Mesmo nestas condições Sylvio voltou as pistas, na Copa Aldeia categoria 125 cc, e ainda demostrava boa técnica, chegando ao pódio em algumas etapas. Porém, o degaste físico e mental era muito grande ao final das baterias e cada corrida, era literalmente uma batalha, terminado invariavelmente exausto e com muitas dores pelo corpo.
No início de 2020, Sylvio decidiu investir em sua saúde e preparação física e o primeiro passo foi procurar assistência para perder peso de forma efetiva e segura com a equipe da Clínica W.A Saúde Integrada, lidera pelo Walter Abreu.
Sem dúvida, o processo de normalização do peso corporal foi fundamental para o passo seguinte, que foi investir na preparação física e neurosensorial. Eu havia conhecido o Sylvio numa etapa da Copa Aldeia em maio de 2019 e confesso que quando o encontrei em nosso primeiro dia de treinamento em 17 de junho de 2020 eu não o reconheci, dada a diferença no peso corporal.
Iniciamos o processo de preparação física e neurosensorial, em um período muito turbulento da nossa história recente, ou seja, em plena pandemia. Nos adaptamos a treinar seguindo os protocolos de segurança, e o primeiro ciclo do treinamento teve como objetivo adaptar os sistemas muscular e cardiorrespiratório para suportar as próximas fases. Naquele momento, o treinamento não estava necessariamente voltado para o kart e sim para proporcionar uma base para a aptidão física. Além disso, foi incluído uma preparação neurosensorial básica para habituar o piloto a um novo método de treinamento. Realmente a condição física do Sylvio estava muito abaixo da média para a prática competitiva do automobilismo.
O segundo ciclo do treinamento, visou melhorar a resistência muscular, a capacidade aeróbia e os aspectos neurosensoriais específicos do automobilismo, como tempo de reação, foco e visão periférica. Além destes aspectos, outro objetivo era melhorar a massa muscular. Um aspecto muito importante, foi que o Sylvio continuou concomitante a preparação física o acompanhamento da W.A Saúde Integrada, responsável pelo monitoramento do estado de saúde e da composição corporal do piloto. Neste momento, o Sylvio estava em um processo muito criterioso de preparação integral e apresentando melhora significativa na aptidão física.
Mas o melhor ainda estava por vir, no final de julho de 2020, quando as competições de automobilismo foram retomadas. O Sylvio Correa equipe Roda Motors se inscreveu na Copa São Paulo Light de Kart 125 cc – Categoria Sênior B e já em sua primeira corrida conquistou pole, volta mais rápida e P1! Com apenas poucos meses de preparação já sentiu uma melhora significativa na preparação física para suportar a corrida e se manter consistente o tempo todo. No entanto, embora muito melhor do que antes, ainda sentia, durante o final de semana da corrida dores nos músculos que constituem o manguito rotador e além de um desconforto na lombar.
Continuamos firmes em nosso planejamento, e os bons resultados no Light continuaram aparecendo o que nos animou para participar do Campeonato Brasileiro de Kart 2020. Nesta fase, o treinamento específico com o kart em pista se intensificou, com treinos alternando entre Birigui, São Paulo e Itu. Para não sobrecarregar o físico, visamos mais o trabalho neurosensorial, resistência dos músculos do pescoço e flexibilidade. Nas semanas em que não havia treino ou corrida de kart, foi incorporado duas sessões de 40 minutos de Squash. A cada corrida a evolução era evidente, não somente pela ausência de fadiga, mas pela melhora do Tempo de Reação, Concentração e Foco. Ainda, sentíamos a falta de uma pré-temporada, e o manguito rotador insistia em se manifestar, embora com bem menos intensidade, durante o final de semana de corrida. As dores lombares haviam desaparecido, bem como qualquer outro desconforto muscular. Enquanto, na Copa São Paulo Light de Kart o Sylvio continuava vencendo, no mês de outubro, ele obteve um ótimo P2 no Open do Brasileiro de Kart.
No mês seguinte, apenas algumas semanas após o Open, em novembro, Sylvio conquistou o título da Sênior B no Light (mesmo sem ter participado de todas as etapas) e nesta balada, seguimos para o Campeonato Brasileiro em Birigui, o qual era inimaginável, bem como o título Paulista, no início de 2020.
Para o Campeonato Brasileiro, a nossa estratégia foi seguir com o ciclo de manutenção, com intensidade moderada e ênfase no aspecto neurosensorial. Em Birigui, no Speed Park, foi o grande desafio da história do Sylvio no kart. O piloto realizou corridas memoráveis e conquistou um excelente Vice-Campeonato!
Sem dúvida o Sylvio era outro piloto, a dedicação no treinamento dentro e fora das pistas impactou na autoconfiança. O nível de condicionamento físico permitiu que o piloto explorasse todo seu potencial técnico e alcançasse ótimos resultados na pista, além de uma melhora significativa no estado de saúde, bem-estar e qualidade de vida.
Em menos de um ano, muitas mudanças positivas na composição corporal e nos testes físicos. Melhora também, na percepção subjetiva de esforço e redução da frequência cardíaca nas corridas. As dores musculares, ao terminar as corridas ou nos dias seguintes as provas, sumiram. Exceto, o famoso manguito rotador, que mesmo com o reforço muscular, propriocepção, flexibilidade, quiropraxia e massagem ainda se manifestava, evidentemente muito menos do que antes do processo de preparação física, mas ainda incomodava um pouco.
Para 2021, o nosso cenário era infinitamente superior à 2020. Iniciamos a preparação, com tão importante pré-temporada, ainda no finalzinho de 2020. O objetivo foi essencialmente hipertrofia e força muscular. Embora, com o treinamento neurosensorial sempre presente, o nosso foco era reforço muscular para suportar a temporada. Foram semanas de treinos muito intensos e pesados. Castigamos o pescoço, ombro e core. E deu resultado: Pole e P1 na primeira Etapa do Paulista Light de Kart 2021, agora na categoria Sênior A. E o melhor, resolvemos o ponto fraco do manguito rotador! Sem dor durante o final de semana da corrida. Após o início da temporada, modificamos novamente o ciclo do treinamento visando o aprimoramento neurosensorial e voltamos para a Resistência Muscular.
No entanto, na 5ª Etapa da Copa São Paulo Light de Kart categoria Sênior – 125 cc enquanto estava ainda na liderança do campeonato, o Sylvio, infelizmente sofreu um acidente na pista e teve como consequência uma grave fratura na tíbia. Neste cenário, nos deparamos com uma situação inesperada que demandou uma outra abordagem no nosso processo de Preparação Física, a qual iremos relatar na coluna do próximo mês. Até lá!
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